quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Balance in Perfect

Another year over
we must make a balance,
people say
we must keep to the present,
people preach
we must keep our minds open,
people wish

so why not
use the perfect aspect,
grammar-wise,
a look back and
a future glance
with feet right here
and right now:

I've had a few moments
(!)
a few loves
a few melting kisses
and a few losses
I've learned to see with my
new pair of eyes
straightly connected to my fingers
- which means, according
to the tense,
that I am still learning;
I've discovered a bunch
of nice guys
who wrote loads of things
I wanna dive in and
get lost for good
and already am

I've definitely made some progress.

As of the future,
I will have loved some more
maybe found a few more
mouths to kiss
and souls to trespass
surely I will have eaten more green
and possibly become greener
just because I will have wanted to
and not because I sympathise
with the flowers

Finally
I will have exercised and
baked under the sun
so that my seeds will have
grown inside,
be it in my own planet
and conditions
or not
- I will have decided
on that too, ha ha

Time has been and will
have been perfect,
just as my imperfections
have made me more real

[Happy new year.]

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sobre espaço, tempo e travesseiros

Ignoro as razões sublimes
e desfaço meus caminhos
na dúvida de
qual esquina

não tenho mapa.

se as placas não me guiam
enfim, terei de seguir
sem elas
mesmo correndo
o risco de me
perder
definitivamente

eu não conheço esses
caminhos
e meus olhos estão
velados
porque não servem mais

sigo em branco e cinza
como um daltônico
em busca de
alguma cor

*

Intermezzo

Quando as taças se esvaziam
e a música já não toca
seja rápido
blow the whistle
traga a bola para o meio de campo
e durma bem a sua ressaca
antes que o silêncio
se torne você -

o pior porre é se
embriagar de
silêncio

*

Alguns travesseiros depois,
verdades inegáveis da física:

o espaço pode ser contornável
[ainda que meus caminhos não sejam óbvios];
e o tempo,
relativo em situações específicas;

mas na equação espaço/tempo
ele é invariavelmente
intransponível:

- é impossível dirigir-se
uma estrada inteira
em marcha-ré.

Noturno de Pomander Lane

Adormeço aqui
quatro luzes espaciais
no meu teto

viajo em pensamento
nessas naves foscas
de luz âmbar

viram histórias
- viram poemas
- viram lembranças
e viram olheiras
e bocejos no café,

e histórias que ainda não são
mas podem ser -
sugestões adoráveis
de noites mal
dormidas

! ah,
[enfática e reticente]
os outros quartos não devem
ter passe livre pra viajar com
direito a tema do dia e
estrelas pipocando
na retina.

Contentamento em dois tempos

I. Rubaiyát

He who only lives in Haste
in anticipation of things displaced
shall not enjoy Life to the full
but shall live to his own disgrace.

Bearing Future heavy, and the Past
on his shoulders, won't he last
long - as he must then submit
himself to filters that harass.

So, come Ye all, and join the trance
the Wine, the Laughter and the Dance
and live this moment to its most
as To-morrow bears no such a chance.

II. Instante

(hi hi hi)
tudo agora parece tão pequeno
quanto um grão
de areia
- minúsculo

numa grande praia
deserta
no meio de um
animado luau

- trago os drinks
e o colar de flores.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Estudo das cores numa tela em branco

a cidade se pinta aos poucos
começa em cinza
e branco
surgem traços marrons
dos galhos raquíticos
em diversas nuances
há folhas nos galhos, raras,
e no chão;

Acrescenta-se o chumbo
da pedra fake dos muros das casas
- são de plástico -
e o azul patriótico de algumas
janelas,
mas não no céu
esse, sem sombra de dúvida,
é, quando muito,
azul-acinzentado;

e, por fim, há o amarelo
que tom? talvez:
acinzentado -
esmaecido
como o os sorrisos
práticos
dos parcos seres vivos
humanóides que fazem
cooper a -7 oC;

Há, ainda
alguma possibilidade
de cor no setor de
cosméticos da
farmácia mais
próxima.

[Mas ah, as casas têm
calefação agradável;
senão não se
faria pintar
o inverno
seguinte.]

domingo, 28 de dezembro de 2008

A children's tale - II

Alice through the plastic glass

Alice goes, spirits low, her heart contrived
as she walks into a brand new fancy shop,
where she asks, naively: 'What should I buy -
I have no money, just wishes; I've got

to try, hear my plea! As so I've been told
by the media, on TV and the like...'
The hatter replied, in a voice tone so bold:
'No, dear Alice' - 'what you should keep in mind

is to get yourself a new credit card!
It'll thus grant all your wishes complete,
it'll rise you up to fame, so not hard
will you find the satisfaction you seek.'

'Oh, Hatter', she replied, 'How might it be so?
I don't want a card just as I cannot follow
whichever I disagree with; so low
would I feel, and so terribly hollow...'

'Sure, little thing - strive just a bit more
so that your wit will finally tell:
- nobody can ever buy in a store
that which so precious there is not to sell.'

'Then, dear Hatter, what would you recommend
in this world of buyings, cards and the kind?'
' - Just let it be, live to your own content
as in books and friends that gift you shall find.'

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cartão postal

improviso
lembrança
sincera

um abraço
um olhar;
pudera

te mostrar
os olhos daqui

mando
esse cartão
- espera;

tanto pra
te contar...

Noite estrelada

O que esperar, noite, em tua ventura
senão calor de uma doce ternura
o beijo macio, abraço indolente,
o brinde em olhar-te toda envolvente?

Ó noite, abraça-me enquanto aconchegas
iluminada por lindas estrelas -
vibro com flores de aromas suaves
que exalas, inebriando-me as faces

Entrego-me à tua promessa - sonho
enlevada em bruma argêntea da lua
e do gentil torpor do vinho carmim;

Adormeço, em teus braços... então ponho
minha mão gentilmente sobre a tua:
- as estrelas hoje brilham por mim!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Questionário

Você é capaz?
de se deliciar com cerejas
sem medo de se sujar?

Você é capaz
de desejar um sonho
e vivê-lo?

Você é capaz
de se expor
sem ter medo?

Se as respostas acima
forem sim,
você não faz o meu tipo

você seria óbvio demais.

Right lane

swimming against the tide
drowning in lost thoughts
or walking the dog
feeling the lightness

oceans away
in memories so deep
- a character in disguise
or real and sensible and
- impulsive

I must come back to my
swimming classes
soon.

nada

silêncio é tudo



também é saudade



mas saudade não é tudo



senão seria apenas silêncio.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Post scriptum

pensei em meus natais passados
imaginários
sempre foram lindos
no meu mundo perto do sol
e amargamente reais
hipócritas,
possivelmente
me eram tão reais
quanto meu mundo imaginário

não sei, parece que a neve
o branco e o frio
e o plástico e o excesso
e a saudade e a raiva
e as feridas abertas
e a necessidade de sentir
alguma coisa
de sentir um vento frio
e resistir
sabendo que a minha
casa estava quente e
que ali,
naquele momento que fosse,
todos eram de verdade
e que puderam, por alguns momentos
se entregar livremente sem
barreiras
a despeito de
todas as diferenças
tão irreconciliáveis

mesmo sendo minha família
hipócrita
e difícil
[que talvez nem mesmo exista de verdade]
aquele momento específico
foi real
e acolhedor.

Quinta no parque

Finalmente um dia de sol
frio como os outros
menos frio porém
meu olhar

vi que as árvores não são de
plástico
e é possível um pouco
de ar fresco
sem precisar comprar
embalado em superpack
no supermercado

os cachorros se cheiram
e se conhecem
no caminho
os sorrisos de plástico
me dizem -"Hi"
mas acho que eu preferia que
me cheirassem seria
mais honesto
nunca vão me conhecer
e nunca vão saber a diferença
entre Brazil e Belize,
tampouco vão deixar de achar
que ambos são latinos
[meus ouvidos doeram nessa hora
e não foi de frio
como das outras vezes];

fechei meus ouvidos para
essas ignorâncias
abri meu olfato para o cheiro
do pinheiro molhado do gêlo
sob o sol frio
e para o cheiro de gêlo frio
no ar
esses eram absolutamente
locais e
genuínos.

White Christmas

Esse poema foi escrito na noite de Natal, junto com a minha família, quase à meia-noite; foi um presente para todos nós.

Luzes cintilam lá fora e aqui dentro
no calor da sala, o contentamento
é grande, e nos contamina a todos:
a magia do grande momento.

As crianças correm apressadas
o jantar é servido, as risadas
se ouvem em toda casa, enquanto
abrem os presentes, excitadas.

A ternura de tão simples evento,
improviso, sem controle ou lamento,
tudo feito quase à última hora: hoje,
por certo, alegria foi o sentimento.

PS: FELIZ NATAL PRA TODOS!!!!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O beijo

Segure minha cabeça gentilmente
com suas mãos
levemente caída pro lado
então passe seus dedos pelos meus cabelos
suavemente
depois repouse sua mão quente sobre o meu rosto
e pense em palavras para me dizer
palavras bonitas
e conte-me através dos seus olhos
dentro dos meus
e enquanto nos aproximamos
não feche seus olhos,
pois os meus te responderão de volta.
E não deixe nossos lábios se tocarem
ainda
- apenas respire lentamente
enquanto nossos suspiros quentes
nos envolvem
e então, só então, encoste de leve
seus lábios nos meus
esfregue-os com carinho
talvez dê uma mordidinha leve
até eles se derreterem.
E, finalmente, deixe-se levar
e mergulhe na Unidade
junto com os meus.

Indulgence

I´m here lying on my bath tube
relaxing my muscles
and boiling my brains
It feels so relaxing here

it´s 11pm and
my mind goes blank
then it peeps in
the lonely thought
- I'm sorry.

I'm sorry 'cause I'm
not the postman
I shouldn't be sending you
messages of any kind
however hard I feel
but sorry
I didn't mean to be unkind
it just felt right then

it's late at night
and my relaxed thoughts
play tricks you know,
it's late and
I'm lonely
in my hot bath tube

and I think of what writer
I am who talks about
nonsense
and grief
and pain

- so dramatic.

- so aimless.

which filters do I use
emotive? sarcastic?
intellectual?
insane?

then I take a long breath and
spread some more lavender-
scented liquid soap
and think at last that right now
maybe I'm just using
the filter of
sincerity.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Eixo

faço girar, girar,
subir,
girar no alto, no sol
me encontrar no sol
[ - uma vez achei que morava perto do sol]
desapegar das minhas sombras e iluminar
minhas verdades, cobertas em pó
as mesmas que eu já não sei, pois que elas
mudam a cada novo giro,
e eu queria girar na dança de um dia
girar como me libertei e
como me prendi;
girar no sentido anti-horário (no que
talvez já me encontre, ou não),
girar até me largar de
mim mesma;

girar como fato e desejo, girar
nas paredes do meu quarto e nas
minhas lembranças
e girando nos teus olhos te
enxergar enquanto te beijo,
como eu poderia ter feito
mas acho que fiz,
do meu jeito;

Girei sem destino, talvez perdida
em sistemas e normas
pré-me-ditados,
girei para encontrar o meu eixo e
desorganizá-lo de vez
girei, girei, ansiosa,
desperdício de energia e de tempo de uma
vida que eu não queria mais perder;
mas foi tudo tão rápido, que
nem vi direito,
não enxerguei com olhos de ver

ainda giro agora em spins
remanescentes de forças internas
sutis, que me forçam a andar, mas não;
giro em torno
de mim mesma,
à procura de algo que ainda não
consigo ver

apenas observo espero intuo assimilo desejo,
e desorganizo.
A tonteira talvez agora me seja um
estado normal de insanidade suave e doce.

...

pior

não
dizer

apenas
observar

(...)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Credo Gourmet

(Após Saint Patrick's, almoço no Fiorello's, italiano simplesmente inesquecível).

Bendito seja o Fiorello's
no sagrado mundo dos repastos,
bendito sois vós
que me trouxestes tamanho deleite.
Vosso veado com alcachofras
seja para sempre louvado,
assim como vossas profiteroles
e cheesecake pertencem ao reino
dos céus.
Lembrarei para sempre de vós
e rogarei ainda aos anjos e santos
para que estejais no mesmo lugar
no dia em que eu aqui retornar.

Amar o Amor II

eu amei - mas amei tanto
que me enchi de amor

e de tanto, mas tanto amar
me enchi de amar

agora, com tanto amor
não quero mais amar

ninguém

quero amar o amor
tanto quanto o amor
puder de amar.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Saint Patrick's

Pilgrims come in flocks and herds
filled with faith and awe and hope
do they think they shall come first,
do they want to climb the slope

that will guide them up to higher plans?
Should they be guided by unknown faces,
the purple-dressed grin of frozen saints
empowered by a divine force so faint?

The golden cross shines all around
in the golden domes, the golden tiles
the purple dresses with golden smiles
they sing the glory with moaning sound

no easy answers, mind you, do I find
in this Holy place where I now stand
however hard I still might try

I'm certain, though, that I don't mind
being here in this place so grand
that means so little; I don´t know why.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Flashes from plastic world

Volunteers stir up fallen leaves
from the ground
they revolve in the air
then gather up in piles
to keep the lawn clean

funny that here
not even Nature
has the right to be
disorganised.

*

The neat houses are immense.
They´re so big inside -
It makes no sense at all.
It makes their emptiness
so much bigger.

*

Reception at the Brazilian embassy:
about 50 heads sitting neatly
in organised rows
nodding at the host's speech
with plastic smiles.

the host's son then plays samba
on his guitar
(a breath of fresh air - finally)

yet nobody moves
no nods
no head swings
no foot tapping
I can't help dancing still
hoping to go unnoticed

I wonder what kind
of family-sized-coupon-discount
cleasing product
they've been using as
blood substitute
- must be really good value for money.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Relógio biológico

Todo dia acordo às seis
mesmo nos fins de semana
sem precisar

Todos os dias choro às onze
ao deitar
mesmo sem querer

engraçado que alguns hábitos
na vida
não precisam
de despertador

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Folhas secas

Serpentinas frias sobem e descem
não há ninguém

os galhos nus desfolham
as folhas secas

das casas lindas
iguais e secas

dos rostos sorridentes
gentis e secos

O frio cinza e branco
desfolha o recém-chegado

e lá, perdido, num
minúsculo ponto
no meio
do nada -

um canto
uma luz e
vozes.

Há vida.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Reys y Reinas

por Vicky Cristina Barcelona

Las Reinas
y las putas tristes
são todas iguais

todas querem dar
o que puderem
aos que as quiserem

Los Reys
y los salteadores
se assemelham

arrancam das pobres
o último suspiro
que ainda lhes resta.

Checkers

the answer is
yes yes yes
yet I feel
no no no


I wonder
so so so


simply: just
- go go go.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

As if

just waiting
as if something would happen

just trying
as if trying would matter

just being
as if being could gather

- parts of me
taken together

as if
they would mean anything at all.

Apoptose

nesse exato instante
um pensamento morreu aqui

da mesma forma
que a cada instante

milhares de células nascem e morrem
turbilhão inquieto de caos
organizado.

imagens randômicas me impregnam
a retina

líquidos isotônicos escoam por túbulos
convolutos

percepções sutis acionam meus
neurorreceptores

e essas milhões de células rebolam
em estradas minúsculas

dando voltas.

Mas fato inegável:
- meus neurônios não estão nascendo
e morrendo o tempo todo
como todo o resto.

muito menos nobres
porém
são meus pensamentos

que nascem e morrem
como o que morreu aqui
nesse exato instante.

Buraco

Cavei um enorme buraco hoje eu não
sabia onde me enfiar cheguei na China movida
por um esquadrão de sapos mafiosos que
se escondiam há muito tempo na
minha garganta -

agora talvez as palavras me saiam mais
lúcidas
não as da boca
mas
as
de
dentro.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Meu passado

Meu passado querido,
seja apenas meu passado,
parte de mim,
e não meu todo.
Não me traga deselegâncias
nem despeitos,
mas lembranças de respeitos,
como minha essência
que conheces tão bem,
visto que és parte de mim.

Ordinary sounds

Today I hear the bells toll
For someone
unknown

What he takes
I´ll never really know -
nor do I really care.

But I do know,
That the bells will toll,
And the horns will sound,
And the people will rush,
And the pain will fade,
And the loves will flush,
And the feet will ache,
Yet the feet will move

Just as,
unaffected,
and totally unprevailing
the little flowers will continue
on my window sill.

Machadiana

O brinco de pérola não nega, és
Princesa de estirpe, nobre senhora
Do tipo de lady que mundo afora
Espalha sorrisos e acenos cruéis.

Cútis pálida, olhos de turquesa
Teus lábios proferem fala simplória
Escrutinas o outro, rouba-lhe a mesa
Dissimulas, pois que só queres glória.

Tu, que te achas perfeita e gentil
Nada mais és do que um nada em nada
Uma pobre boneca de porcelana

Continuas, pois, teu trabalho servil
De agradar os outros; segue, coitada
Até te deixarem, sem vida, na lama.

Reminessência

Reminiscência é o ato de remexer na essência.

Flashback

Dedicado a um amigo capiano recente ... bons tempos, boas lembranças.

Eles jogam bola
e elas jogam vôlei
e queimado.
Jogam a bola,
Câmbio!
Eu peguei! consegui,
hoje sou a rainha do jogo.

Naqueles doces aulas
a bola, o jogo, o ginásio,
eu era rainha de tudo
e de todos; inebriada
na inocência e na disputa,
na expectativa da bandeira
verde que eu defendia
com unhas e dentes.

Eu era verde desde que nasci.

*

Soa a campainha,
fim: recreio!,
mais bola, mais vôlei,
não pode, devolve a bola,
pôxa! por quuuuêê???
mas tudo bem, amanhã tem mais,
pois em setembro seremos os reis -


No meu reinado não vai ter pra ninguém.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Amar o amor

era um dia cinza
como todos os outros e
eu estava cinza

você aparecia nas esquinas
eu te via a cada hora
o amor amado
e desamado
quando ficou
cinza

continuei te amando
em pensamentos
úmidos e tristes
como a minha lágrima

e a chuva tentava te
limpar de mim,
mas não conseguia

amei o amor
como você
amei o desamor
também
mas não como você

o difícil foi
me contentar com
os pedaços

são sempre pedaços
realidade em pedaços
distorções irreais
pedaços -
fragmentos do que eu fui

um dia vi meu reflexo
numa poça
olhando pra baixo
ainda por baixo

e vi os pedaços
se refazerem
em pedaços
cinza-prateados
úmidos na poça
amores (des)lavados

Me vi ali.
Me lavei ali.
Me refiz ali.

Pólos positivos

Quando resistes – insisto,
Quando me assistes – retrato,
Nego o relato, des-disse,
Largo-me em desato.

Quando corriges – acuso,
Quando amenizas – escuso
O proceder; des-entendo
A razão do teu lamento.

Quando ignoro – aplaudes,
Quando te afastas – saudades,
Procuro-te em sombras
Em vez de em claridades.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Conditionals

0.
When you love, you change yourself.
When you give, you get something in return.

I.
If you try, you´ll get what you want, or need.
If you have ambition, you´ll fly up high.

II.
If I could, I would embrace the world
And absorb it in just one breath, and live.

III.
If I had known what I was going to get…
I would have done it all the same.

Sobre o tentar

Prefácio:
- On a more serious note... ; de mim para mim mesma; who cares, anyway?

Dificuldades, há muitas, todos têm, todos se queixam em algum momento da vida. Difícil, talvez, seja sair da inércia e tomar ação, uma vez que o passado tem, às vezes, um apelo irresistível. Vejo amores impossíveis chorados continuamente, frustrações profissionais lastimadas, lamúrias de todos os tipos. Bem, também vivi e vivo os meus lamentos, como qualquer ser humano normal, e com bastante freqüência até... mas... há que se tentar. Tenho pensado bastante nisso. Nada melhor do que usar os poucos neurônios que me restam, já na desvantagem pela cor dos meus cabelos (!), para produzir algo que valha à pena. Pois, se um limão pode virar uma limonada, quem sabe pode virar uma deliciosa torta com merengue por cima?... Mais do que uma visão "cor de rosa" da vida, tola em sua prerrogativa, acredito que uma atitude pró-ativa e prática, em alguns casos, seja mais proveitosa do que o mero reconhecimento da inutilidade de um esforço, se ele não acrescentar nada a quem viveu.
Sublimar as experiências em exercícios de sensibilidade, por que não? Dialogar consigo mesmo, não à procura de respostas, mas de perguntas reais que justifiquem reflexões mais profundas... ou não! Simplesmente brincar com a sua miséria e rir de si mesmo... Ou um pouco de tudo isso...
Tendo a acreditar que é válido tentar, de forma simples e esforçada, aprender com qualquer tipo de experiência e, sempre que possível, desenvolver novos olhares. Talvez isso seja uma tentativa de amadurecimento. Talvez seja pura perda de tempo...?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ondulante

Na árdua tarefa de me conhecer
Procuro, em vão, o que mais dizer;
Pois vago, persisto, a não mais poder
Encontrar respostas em meu próprio ser.

Tangente, escorrego, perdida em noções,
Fulgente, brilho em conquistas; brazões
Não tenho, nem quero; prezo somente
Aquilo que almejo, conscientemente.

Se mudo, se fico, se ora me vou,
Acredito que o vento a mim destinou
Viagens incríveis - pois que restou
A mim sonhar com estrelas; sou

Desta forma, a vivaz sonhadora,
Embora, tão tola, ache que outrora
Não soube sonhar; mas na ida hora
Eu soube voltar, para o aqui e o agora.

Não defino, portanto, e nem busco mais
O que sou, o que fui, o que farei; ademais
o que faço e o que acho; não seria demais
Definir-me como quem não pensa: ‘jamais'.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Spinning round

Spins are pins that hiss like snakes
Enthralled by energy.

Spins seem pin-ups dancing in a cabaret
Frantically, with no aim.

Spins sip the fiery wind they leave behind
As melting ice cream.

Spins are conjectures of distance
Brought together by hidden forces.

Spins are the attraction forces that unite two
Bodies despite all others - and all odds.

Spins derive into splits, two parts of
One, that add to significantly more.

Spins can be special hooks to catch
The eye of a vulnerable passer-by.

Spins make the world go round,
Not money - though it tries.

Chorus:
Spins keep going, round and round,
Spinning round, till dizzy and bound;
then fall to ground, with muffled sound,
they spin backwards, and move around.

Mis - considerações lingüisticas.

Adoro esse prefixo do inglês -mis: 'falta de', 'erro', 'distorção', traduzido para o português como 'mal'. Misinterpretation, misunderstanding, mishearing, misshaped: algo que saiu diferente da intenção inicial do interlocutor. Também remete ao 'mis' do francês, passado do verbo colocar (mettre), que traz uma idéia de 'foi colocado', 'já foi feito', ou, melhor dizendo, 'já era'. Então, em resumo, seria algo que foi feito, que não era a intenção, mas que surtiu um efeito colateral e pronto.

Há tantas coisas que saem em mis na vida, (in)felizmente, obviamente porque não há dois seres humanos iguais; logo sempre haverá lugar para esse tipo de fenômeno. Como uma posição errada no espaço: nem cis nem trans, mas mis. Engraçado, ainda, é que a sonoridade de 'mis' é algo delicada, quase um eufemismo considerando-se a história toda, especialmente comparadas às conseqüências nem sempre tão delicadas da distorção. Hum. Pelo menos a palavra pode trazer delicadeza para alguns assuntos que, por sua vez, podem ser bem delicados.

Talvez fosse interessante importar o prefixo puro, para quando algo sair um pouco diferente do que se pretendia, em vez de 'pôxa' ou outros vernáculos menos singelos (ainda que honestos), mandar-se um sonoro "MIS!"... Talvez o ouvinte sofresse menos as conseqüências desse último comentário, o que poderá ter ocorrido com o objeto que originou a incompreensão (caso não se carregue demais na entonação, a qual pode expressar mais do que mil palavras). Ou ainda, se o ouvinte conhecer o prefixo, poderia intuir que houve um ruído na comunicação... Ou, ainda, neurolingüisticamente falando, talvez pudesse ajudar a reprogramar a mente para enviar uma mensagem mais apropriada da próxima vez.

N.A: Apesar destas elocubrações lingüísticas serem absurdas e algo fora de propósito neste blog, não deixam de ser interessantes, contanto que não sejam misinterpretadas - perdão pelo anglicismo!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Gris

As tulipas estão sem pé.
A terra está sem adubo.

Não se sustentam.

O vazio é grande,
e a falta é imensa;
e me toma por inteiro,
e me estreita a vista,
e me torna um tempo instável,
com breves períodos de sol
entre muitas nuvens,
diz o oráculo.

Sinto-me um buraco negro
implodindo em matéria densa.
Elétrons com spins dissonantes
atordoados pela falta,
desmagnetizados,
desenergizados,
à deriva dos potenciais,
à deriva dos campos,
à deriva nas ruas,
à deriva dos lábios,
à deriva do sol.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ode a Walt Whitman

(Sempre quis escrever um poema sobre o capitão de Walt Whitman desde a primeira vez que o li, só que comum final feliz: vivo e guiando seus marinheiros, final talvez menos épico; mas certamente mais otimista.)

With open eyes, determined fist, here I go
To unsailed seas, unseen roads and although
I have brought nothing but my fragile soul
‘guess that´s exactly what it takes me to go.

Thy figure has inspired and conquered my fears
Thy fairness has resided in all that I hear,
All the battles I’ve fought, thy glory comes near
The victory of a small sailor brings out the cheer.

My captain, thou standst inside me and ahead!
Thou hath guided me in full darkness and despair,
Thy strength shall be there when I need it the most…

Hence if the horizon brings in news to regret,
once storms that mounted have summoned in the air,
They shall become firmness which thy soul bestows.

Delicadeza

Quando dizes: ‘vai-te agora, estou bem’,
Acredito; e vou-me indo também.
Aceno-te, sorriso sincero,
desejo-te o que há de mais belo,
Desvelo em cuidar do que prezo:
Inefável carinho - o qual vem
embalar-me em névoa mansa,
que, singela, lúcida, mas intuitiva,
emana livre do teu bem-estar
que se reflete, assim, no meu;
espíritos inquietos aflitos buscantes
encontram-se, por acaso, em
outras esquinas, distantes,
e abraçando-se, relembram
sozinhos, sorrindo, silentes,
delicadamente procuram
o conforto das almas afins.
E aquietam-se, então, sem lamento,
despedem-se em suave contento
do contato conhecido, querido
reencontro mais que sentido,
Aconchegam-se,
Respiram,
E de novo se vão.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Semente

Da terra fecunda nasce o impulso
Germina o grão, que dele se faz planta
Sem, entretanto, alterar-se-lhe o curso
O sinal único que a forma implanta.

Se a terra lhe jorra a seiva, sustenta
os mais íntimos desejos e encantos,
A raiz lhe firma o corpo e fomenta
A energia de pisar sobre os prantos.

Traz em si o âmago da potência
com que gera, servil, sublime lastro
Encontro inefável da matéria e Deus

Ao que promove, com toda coerência
Gentileza, força, fluidez e rastro
Que não me definem; quisera-os meus.

Simples desejos

Desejo ainda muito desejar.
(Grande pretensão, mas verdadeira;
sem grandes aspirações poéticas).

Desejo a contínua mudança:
falta de desejo é falta de vida.
Desejo ler muito, muito!,
refastelar-me em idéias e sentimentos
que podem mobilizar o pensar.
Desejo vibrar com pequenas coisas
e pequenos momentos, como uma
criança, sem a menor dificuldade.
Desejo esvaziar a mim mesma
de tudo o que já fui,
dos medos e concepções,
de inúteis perfeições,
para me encher de tudo
o que ainda posso ser,
como um grande vazio
de potencialidade(s).
Desejo escrever sobre muitas coisas,
sejam elas relevantes ou não,
sem o menor compromisso;
bem como desejo ler muitas coisas,
que provavelmente serão relevantes,
ainda que, muitas vezes,
imperfeitas.
E vibrar com um lindo soneto
de amor, por exemplo.
Desejo ver muitos filmes,
e adorá-los,
comendo pipoca meio
salgada e meio doce.
Desejo dançar num salão,
dançar com a música,
ou com alguém,
não importa.
Desejo que meus amigos
compartilhem as minhas descobertas
e as minhas gargalhadas.
Desejo, por fim,
que eu não deseje só pra mim.

(Seu desejo é uma ordem!
Diria o gênio...)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dois jovens amantes, lindos se amaram,
promessas fizeram de amor perdurar,
ingênuos que eram em seu desejar,
o Amor, por pouco, quase alcançaram.

Perdidos, porém, não viram passar
o Tempo, e com ele aos poucos deixaram
a paixão a que outrora se entregaram,
sem perceber a armadilha se armar.

Quando viram, já tarde, o tempo cruel
tirou-lhes a calma e os fez separar
o sonho do dia, trazendo à razão

dos dois a verdade; apenas paixão
que, tão intensa, lhes fez transformar
em lembrança o amor outrora fiel.

Desafinado

Ando sozinha, não sei
onde, ou porquê,
por aí me vou, sem fé.
Parece que não ouço.
O que dizer então,
se ainda não sei;
procuro, me pergunto,
onde estou, e você?
Que me dizes?
Nada (...)
Aguardo em silêncio.
Recebo um silêncio
sorridente.
Parece que também
já não sei falar.
Troco um olhar duvidoso,
misto de ‘quero’
e ‘não quero’,
quando tudo o que
queria de verdade
era um sim,
e não um se.
Um afirmativo grandioso
e luminoso,
sonoro, gargalhante,
pra se rir nas horas vagas.
Porém, reconheço,
nunca toquei lá muito
bem minha flauta;
ela sempre
desafinou no si.
Como havia de querer...?
Resta o silêncio
aos que, como eu,
não aprenderam a tocar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

DR

Palavra tola, pensamento que apaga
Fio desgarrado de idéias ilusórias
Alimenta a infâmia de chagas provisórias
Que versam em dor, no outro, em nada.

Carece de fim, por vezes de meio,
Ainda que alegue rigor de verdade,
Ignóbil teia de falsa humildade,
Não chega nem perto, mas acerta em cheio.

Eis que, em meio ao grande vazio,
Sem fé, nem razão, mistério ou delícia,
Arrasa sem dó, pois que o óbvio expõe

Ao versar sobre pouco, beirando o fastio,
Ignora a razão de que se faz milícia
E o óbvio, então, em claro se põe.


PS do soneto: (Camões se revirando no túmulo - o pobre.)

Na falta da métrica e proporção adequada,
Surge mais uma estrofe arredia,
Posto que a maldita DR, um dia,
Serviu-me mais do que a falta alegada!