sábado, 28 de novembro de 2009

Little pleasures

(Para Sophie, Tico e Teco.)

Sigo tranquila com olhos compridos
enquanto pulam e depois rolam;
afago um carinho desprendido
ou o porte altivo; e me ignoram.

Em noites tão mal dormidas
e em pernas puladas na cama
(que já não é mais minha...)
-- me adoram

Nirvana em um encontro
absoluto e transcendente,
consciente e continuamente
eu os namoro -

Plenitude sincera e incondicional
companhia mútua, mimo delicioso,
prazer extremo -
em um miau sonoro!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Por trás do verde da lente

Reconheço minha saga de amor
e minha contemplação inexorável
do objeto amado.

Reconheço as distâncias
muito mais que geográficas,
muito provavelmente transponíveis,
fora esse o desejo e outros tempos.

Reconheço ainda a beleza de amar
e ter sido amada tão docemente,
e achar que o amor dura para sempre
em intenção.

Reconheço a beleza infinita das coisas
e agradeço todas as oportunidades que tive
e ainda vou ter.

Reconheço meu amor por minha gatinha
e os outros serezinhos que estão por vir,
por mais bobinho que isso soe.

Reconheço a mim mesma em cada pedaço,
meu espaço que faz parte de mim
e me completa tão bem.

Reconheço que o beijo inventado é muito mais
gostoso - ô se e´!
(...)

Reconheço no outro um mistério intrigante
que me impulsiona a investigar e explorar
a minha volta.

Reconheço o meu total desconhecimento das coisas
e a minha atitude sincera de aprender,
o tempo todo.

Reconheço-me aqui, até sem praia, bruma ou suspiro!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Mr. Freddie

If you say "Who do you think you are?"
while I tell you this,
Hang on, it's nothing personal,
just a tiny little thought as I was flying away,
far away;

In the middle of the darkness
in my (not) so hard life
I just wanna say you're the love
of my life...
Or someone else is.

Whatever.

Thank you, Sir.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

blás e mais blás e outras remoências

Hoje eu voltei do trabalho
tava no carro
som ligado

alto

me deu um blá blá blá.
Uma sensação de não sei lá o quê -
se era saudade,
não sei,
falta do que ficou pra trás.

Um blá de lá, uma vontade de misturar tudo.

Sem o menor compromisso de fazer
algum sentido.

Hoje eu tava meio blá, mesmo,
uma linda bonitinha arrumadinha
quase patricinha
com a maior vontade de chutar o balde
e mandar o mundo à M.

Quero os meus amigos,
e ser livre,
e ter sol na minha alma 24 horas.

Não quero afundar em blás blás blás.
Quem será a minha tchurma aqui?
Será mutcho difícil de achar?
Será uma incoerência insuperável?

Droga, hoje o cinza da cidade entrou em mim.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Canção de despedida

Com o vento, veio a bruma,
e com ela o sol do mar.

Com o mar e a luz da lua
veio o beijo ao luar.

Com a lua, o meu suspiro
que o vento então levou

E então, ó vento, bruma,
sol e mar: daqui me vou;

- Levo os quatro em meu olhar,
Sem tristeza ou dor alguma.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cena de primavera

A espera aflige a sombra do reencontro.
Os casais se espreitam e se perseguem.
As trilhas soam melódicas em suas mentes,
a despeito do embotamento tátil que os afeta.
A troca de humores persiste entre os corpos.
A ilusão da imagem não desfaz do acaso que
os aproximou; até mesmo reforça-lhes a tez.
Sentem-se seguros em seu abraço de calor -
até que percebem a fugacidade do momento.
Vivem então o presente,
dão-se de presente,
ativamente,
generosamente,
se dão.

sábado, 12 de setembro de 2009

Atena dos olhos verde-mar

Sonho,
...lembro,
.....suspiro,
.......insisto,
........desisto,
.....;....fabulo,
...........................................................per
...........rio!, - por que não haveria de me mi -
...........................................................tir
...........entristeço,
.........e depois,
.......sorrio,
.....sorrio,
..imagino,
e durmo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eclipse

Parei
Num tempo estático passado-futuro
Numa terceira dimensão de tempo-boca-espaço
Num buraco negro aspirador de sonhos

Voltei, súbito,
de uma efervescente mecânica dos sentidos
de um elástico abraço dos unidos
na desenvoltura dos que fingem o natural -

Sem máscara! (humpf)
e a intenção verdadeira nem era,
não pôde,
não foi,
nem seria;
por simplesmente perder-se no ser

tão 'demais'

sempre.

Entretanto, antevejo duradouros eclipses
brilhantes estrelas num céu escuro
iluminado pelo cativante sonho em 3D

Aqui permaneço, em esquinas
Viro as esquinas
Sigo os destinos
.........- e deixo um imponderável lastro de saudade.

domingo, 7 de junho de 2009

Of lemons and lemonade

Bring me lemons
I'll make lemonade
I'll make it thoroughly
and slowly
and carefully
I'll sip it to the last drop
I'll make it last

Give me a life of lemonades
Acid lemons of drawbacks
to be swallowed without pain
-should it ever be possible;
(otherwise...?)

Drink sweet cherry brandy
instead -
get drunk with cheer,
and wait for the next lemons
in your drink
-- they'll come, baby

Bring me lemonades,
please!
bittersweet lemonades,
and finally surrender.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Da janela

Lá, por um dia,
eu estive.

Eu estive lá.

Abri a porta da sala escura,
abri as janelas,
entrou a brisa.

Levantei a poeira
e vi o mar.

O reflexo verde
do fundo.

A onda que não leva,
o sol que aconchega
e a mão que apenas afaga
[gentil].

A sala escura se abriu -
e saíram todos.

(...Um dia
Talvez...)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Res:

meu sorriso cansado
numa noite fervida
- olhar fundo de mim

domingo, 3 de maio de 2009

J(oy)eux

Jogo-me em dupla jornada
jogo de vista, jogo de amor,
jogo de humor;
jogo aberta, jogo despida
de pudor,
ou qualquer impedimento/
restrição/aflição;

Jogo cujas regras ainda aprendo,
pelo puro prazer de observar,
de cair,
de levantar;
machucar-me de leve e
suar de intenção.

Jogo o jogo do luar
e do sol sobre o mar,
e da onda e da bruma
e do suspiro que voa,
e dos amigos de chopp,
do filme cult sem legenda,
do gerente que se arruma,
do meu olhar (que não descuida):

jogo de brincar de ser.

domingo, 19 de abril de 2009

De(s)-saber

Às vezes, é bom des-aprender, des-construir e des-fazer. O resultado pode ser fascinante.
Apenas uma brincadeirinha com um fundinho (ou pretensão, talvez) de verdade.

Nada sei
(isso eu sei);

e o pouco que queria saber
já não se sabe mais

Então, resta saber
o que fazer ou ser

Resta-me o não-dizer
(já que não sei)

- nem saberei -

Pois, se querer é poder
(e querer mais saber)

posso e quero, assim
poder me re-conhecer.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

É

Quando tudo faz sentido
e as linhas tortas se desprendem
em vômitos borbulhantes

e os signos se desfazem em sinais
de encontros desencontrados
em letras de outras línguas

simplesmente -
lei it be.

Just kiss me.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Quoique

La sincerité de ton regard
L'ouverture de ton humeur
et la dignité de tes pensées

Des bonnes nouvelles - -

Ta verité dans mes bras
La passion de nos bisous
et l'intensité de nos baisers

La grand reveille - -

Le temps qui est passé
Cet été de ma jeuneusse et
La fraîcheur qui m'a rempli

- - Cependant

Le rêve est tout à fait là.

- - - - - Et ça ne m'agace plus.

(Ça fût longtemps)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Dor de cabeça

Dói quando pensa
pensa que dói?
dói só que dói,
...... e destrói

tanto faz que me mói,
inquieta dor só,
que me faz sentir dó
......de mim

vem devagar e ó,
acabou a paz
traz de si só
......dor a mais

dói em mim, só
em mim e em quem
estiver só, comigo
'güenta! pois não é só
......hoje que vem

espera pouco, ó,
vai passar:
a dor, o só, o dó -
......a dor maior.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Líricas

Envolve-me em mil danças
sufoca-me em teu laço
enquanto, enfim, dispensas
aos poucos, de ti o recato

Oferece-te assim liturgias
da entrega total no escuro -
enquanto, sob o tal muro
não lamentas, mas sorrias.

Entre as cortinas de veludo
te escondes; então te mostras
- encara o teu personagem,
não dispensa as propostas...

Desfaz-te de tuas máscaras
e suspira teu ar de vida...
abraça teu beijo aguerrida
e lança teu mundo às favas!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Estudo de um sentimento em três facetas

Observei alguns útimos poemas falando sobre o amor - perdido, reencontrado etc etc etc. Senti vontade de descrevê-lo sob perspectivas diferentes, donde veio essa trilogia:
Amor romântico.
Amor sem jeito.
Amor-desejo.

Enjoy.


III - Vontade

Mergulha.
Olha o mar do meu corpo e desliza.
Segue a curva do ângulo certo.
Observa a suavidade da tessitura.

E quando, então, despido de suas
vergonhas e impulsos pueris,
te entregares ao mar das possibilidades -
afoga-te no bote final do desejo insaciável

e descobres que o mistério é a essência
que te faz seguir o fluxo.

II - Bla bla bla

Falar de amor é assim, assim:
...meio difícil, meio piegas,
...meio doído, meio chatinho,
...meio vitrola, meio mudinho
...meio sonhado, meio carinho,
...meio sentido, meio trocado,
...meio doado, meio sozinho
...meio abraçado, meio dormindo

...é assim, assim de mim mesma...

..........(aaaaaaaaaaaaaaa)

I - Encontro

Me abraça com tua alma poeta
Te envolvo em um beijo macio

Me acorda do sonho e desperta;
que, sonhando, sigo o teu brio

Se tanto me falas, em alerta
te desfaço do sério - e sorrio

pois o eterno de um beijo supera
qualquer ilusão de vazio...

.............

segunda-feira, 30 de março de 2009

Delirium algicus

O tamanho do meu amor
é a justa medida da
minha dor de cabeça:
pulsa, suspira, arde e mói,
preenche e esvazia,
sufoca
e derrete-

e me deixa com
uma bela duma ressaca.

Vai ver que é porque
é simplesmente
do tamanho
do meu desejo

(e ainda não inventaram remédio)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Saída

Hoje tem saída
(tem o quê?)
tem pedida,
tem novidade
na medida
(espero)

tem saudade
(também)
ressentida,
mas tem muito
mais que a
própria ida
(olha só):

tem fechamento
de ferida.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O xamã


Natureza amiga de sobreaviso
ficaste à espreita em improviso-
vigiaste do leste sobre o monte
invocaste a alma do grande Pai.

Águia, de longe, sobre o cipreste
iniciaste a procura dos iniciados
ajudaste na cura dos alquebrados
intuíste o cântico sem nenhum ai.

Símbolos selvagens ancestrais
adentram a tenda; em reverência
curvam-se os corpos aquecidos,
esquecidos de seus dissabores

E, entoando cânticos primitivos
exaltados em esperança e êxtase,
entre coiotes, águias, ursos e búfalos,
e a bênção dos povos ancestrais,
curam-se e seguem, enfim, em paz.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sinal

Bicicleta nova
novinha
sem rumo


.............uma estrada
.............inteirinha
.............sem dono


.........................eu aqui, sem sono
.........................bicleta inteirinha -
.........................estrada pra seguir?
....................................
..................
.............................................já abriu afinal -
.............................................avançar o sinal,
.............................................ou simplesmente existir?

terça-feira, 17 de março de 2009

Sossego

Te pego em riste, não me viste
Te vejo distante, não obstante
o teu medo, ao qual não cedo;

Teu beijo em mim persiste,
e se nele a memória inquietante
perturba, porém, não me meto -

A achar que por mim insiste
a vontade de te ver; doravante:
queridas lembranças de apreço!

Em bruma insólita prossigo
suspirando o desassossego
envolta em sonho quase burlesco

E se, no rumo sinuoso que sigo,
de (des)encontro adorável de apego
remeto-me de novo ao começo:
sossego!

domingo, 15 de março de 2009

I'll sing of love

"Love is all we need"
- The Beatles

Francisco de Assis: my dear and beloved one!

Such a big world, and so lost -
bound as it is to blindness,
unable to see inside
where all the questions rise,
and most of the answers lie.

For searching is man
what he doesn't know,
for nothing to find;
as he can't go further,
tied back to misery and
bitterness behind.

If only he would love more
love all, and all things,
nature and all men,
and think less like kings!

Let´s seek Love
- for love is undeniably
all we need.

sábado, 7 de março de 2009

In a little while

In a little while in the future
next to no time at all,
in an eyes´s blink,
future will be now:

And I´ll be as happy
as ever in my cosy bed
in my fresh new world
with my delightful memories
thinking about the sun tomorrow
drinking an almost frozen beer
just happy to be here
to find all things existing.

domingo, 1 de março de 2009

Bênção do samba

[As bênçãos, de certa forma, são como sambas: quase todas têm refrão. Essa não é diferente.]

Ó menina, venha cá
e me escute com atenção:
o mundo passa, vem e vai,
e você assim, na contramão...

Mantenha os braços abertos
e o coração escancarado
Não te prive de pensar
nem de sentir,
ou dizer não;

pois teu círculo de amores
e de amigos, pela vida,
só aumenta na medida
em que dizes o que és
e o que sentes.

Olha à tua volta
sorri pro teu desespero
- se ele vier -
que assim, de mansinho,
ele também vai dormir.

Descobre teus amigos
em cores e sorvetes doces
e no bloco de samba antigo;
sambaste bem no coração
de todos eles.

Vai, minha linda,
segue colorida
e não espera nem
demais, nem de menos.
Confete, só no carnaval.

Simplesmente,
não espera.
Então deixa, deixa
o samba te levar,
roda a cabeça, mexe
no cabelo, e ri!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Fim de festa

cansaço
olhos pesados sono
volto pra vidinha
de sempre
.... sem confete
.....sem marchinha
.....sem samba
.....sem bloco
.....sem dança

agora só
no ano que vem -

(Que bom esse café hoje.)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Brincadeira de Carnaval

(Sempre gostei de carnaval: combinação perfeita com o verão e palco de muitas histórias. Fico feliz com o ressurgimento dos blocos e a volta das marchinhas de quando eu era pequena. Só que agora o baile é na rua:"Oh quanto riso, oh quanta alegria...!")

De tarde, no bloco,
em meio a arlequins e colombinas,
ouvindo as marchinhas de índio
no calorão do Saara que é aqui:

Índio quer apito senão a colombina
vai partir, e o nenê não vai mamar -
e em meio a muita cachaça
(que não é água, não)
desfilam memórias de confete e serpentina
costuradas em fitas multicor

No meio da rua, quicando lembranças
nós pulamos juntos, nos encontramos,
e revivemos o presente
na marcação do tamborim

[E o meu pierrô,
que me abraçou e me beijou,
meu amor...
te encontro no ano que vem,
pra fazer jus à marchinha].

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Shall we

Should I tell you once more
of my past love and regrets
or should I say - do ignore
my misdeeds and all my frets?

Should I say: please forgive
yourself of your misleads,
when all I wanted -so naïve!
was life to grab with greed.

All is gone to 'folder: love',
all is back to its right feet;
mind is open, hearts above
any ceremony or conceit.

I have no fear, by no means;
nor ashamed, as I have lived...
just want to find more greens
- shall we...? and no more grief.

Trilha

Você, então,
parada na minha porta.
Eu te olho de novo.
penso em movimento.
vamos andar?
pra frente?

!

sorrio e sigo o
sol que está nascendo
[e me dá uma vontade
indescritível de gritar
iuuuuupeeee!!!!!!!
feito criança]

...

então o sol olha de volta
(e ri, pois a infância é eterna)
e entendo, então, porque
escolho esses caminhos
- assim é bem mais
divertido.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Momento

Ali, pertinho, do lado
há uma casa com a porta aberta
- entre, sem medo:
o jardim é colorido,
não há cães nem restrições.

Bem pertinho,
e bem do lado,
há uma torta de maçã
fumegante e doce
sobre a mesa.

Deite na rede, balance livre
do tempo e do momento
entregue-se à mais pura
preguiça de ser ninguém
(por pouco tempo que seja)
- você nem vai sentir.

Deixe então que uma carícia
de vento te embale o rosto
na sombra aconchegante
Momento de absoluto
e sereno êxtase.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre o não saber

Cansei de tentar entender,
pois não consigo;
cansei de tentar sublimar,
pois não há como;
cansei de tentar inventar
o que não é possível.

A mágica existe dentro,
e não fora.
E se não há,
simplesmente se foi -
problema!
Não me diz respeito.

Há mais por aí do que
pensamentos turvos
criando problemas
que não existem.

Viva os práticos! - mas
também os sonhadores,
e os amantes e os
que não se prendem e
sabem desejar:
neles talvez reste ainda
um pouco de lucidez.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

À mon amour

Meu amado, já te foste, não te vi
quando olhei, eras vento suspirado;
com ternura no olhar me despedi
tendo a doce lembrança do passado.

Nestes novos caminhos, as futuras
mãos e olhos que então eu verei,
espero não sejam desventuras -
como a ti mesmo jamais considerei.

Que me sejam lindos e refulgentes,
curiosos, abertos, gentis e capazes
quanto um dia meus olhos encheste;

Ainda que, meu amor, infelizmente
não nos vejamos mais, me satisfazes:
pois tanta cor um dia me trouxeste!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Tempestade


Chove cinza e frio e forte no ouvido
e o vento leva os pensamentos longe
- encontro meus pés bem perto de mim.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Auto-diálogo

Então
o que você queria me dizer
e não disse?
O que eu te disse que não
era pra dizer -
esquece.
Eu te olho,
simplesmente,
e te digo tudo.

Apenas me olhe
e me entenda,
ou sinta, apenas;
há tanto mais.

Apenas me envolva
em uma nuvem de idéias
brilhantes - ou nem tanto,
que inspirem um suspiro
ou um espanto;
me surpreenda.

Só lembre, sempre, que
eu sou isso aqui,
umas flores nos cabelos,
e cheia de vontade.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Benjamin B. e o tempo

Pior do que a perda no fim
é a falta do encontro no meio.

Se o encontro é fugaz, não
importa: transforma.

E se o encontro é desencontro,
não me iludo: sempre vale à pena.

E, por fim, se este durar,
agradeço: na vida, isso é bônus.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Espera

"Qu'est-ce on attend pour être hereux?
Qu'est-ce qu'on attend pour faire la fête?
La route est prête, le ciel est bleu
Y a des chansons dans le piano à queue..."
(Ray Ventura/ Patrick Bruel)

Raciocínios desconexos finalmente conectados
a uma linha de intuição ilimitada e sutil
(talvez a melhor diretriz da alma):
a percepção da finitude que precede a
memorável sensação de plenitude;
aquela, espontânea, gerada pela ficha que cai
gentilmente na cachola de tempos em tempos.

Faz a ligação direta do core com a razão
na razão inversa da espera e direta do desejo;
pois que a estrada jaz, sinuosa, adiante,
bastando apenas passos inseguros primeiros
para a conquista de novos espaços; alvos certeiros
de incertezas desafiadores e loucas
e altamente desejáveis,
insanamente desconhecidas
e profundamente saudáveis.

Que a festa comece, sem espera,
e que eu não me proteja de mim mesma.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Simples

A Você,
uma pequena bobagem,
de um simples desejo,
por um grande sonho:

Um dia eu te encontro,
num pequeno lugar,
um simples sentimento,
para uma grande partilha.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Routine

Just another ordinary day:

Another bomb exploded in my yard
another tidal wave of rushed feelings to sweep me away
another waste of time with undesired thoughts
another surge of bittersweet memories and longing

then I quietly gather my things,
find my keys,
get into my car
and drive away to Paradise for a little rest.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sol e mar

O mar encanta o sol, que gentilmente
responde com brilho franco no olhar:
'Ilumino suas águas transparentes
toda vez que um novo dia raiar'...

E o mar responde, pois, serenamente:
'Como posso tão doce oferta recusar?
Sem teu brilho, estas águas simplesmente
seriam um mero cobertor para o luar'.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um dia diferente

Raramento escrevo prosa, mas hoje... enfim... acho que é um dia diferente. Começou com um café da manhã preguiçoso, seguido de Praia - essa estava linda, como sempre, o meu céu azul-amigo-de-todos-os-sábados-e-domingos marcou presença! - leitura extensa do jornal, churrasco com amigos, etc etc etc. Tudo pra ser um final de semana tipicamente satisfatório.

Mas não: hoje foi um dia diferente.

Hoje ouvi e vi coisas interessantes, encontrei gente querida e gente diferente, encontrei até gente que não pensava encontrar; e reencontrei outras tantas também. Hum... e alguns encontros tão agradáveis! Daqueles que acontecem uma vez na vida e na outra também, mas que você queria que acontecessem sempre. (O que me faz pensar que além da pasta dos "grandes amigos" e dos "grandes amores", acho que todo mundo deveria ter no seu arquivo pessoal uma outra, a das "pessoas que vale à pena encontrar"). E não só o papo e o abraço: aquele sorriso de lado com uma piscada quando o outro te viu de longe e pareceu feliz de você estar ali...

E passado recente com passado remoto num mesmo lugar, que mistura interessante! Senti uma baita vontade de rir hoje, também: por causa de tudo o que fiz todos esses dias que levaram a hoje! Dia bom, esse. Pena que o presente vira passado tão rápido... Ou talvez, como diria um amigo, nem tanto - pois são a mesma coisa... apenas "facetas diferentes de um diamante lapidado" (ou algo muito parecido - sempre fui péssima com frases alheias. Perdoem-me o amigo e o físico que a disse pela primeira vez).

Esse domingo passou, mas a lembrança destes encontros vai ficar. Ainda bem.

(Beijos à Luciana, Ana e Villardis - adorei o reencontro. Sintam-se abraçados.)

Mergulho

Quando um dia, serena, decidi
o mundo de uma só vez abraçar
não sabia o que iria encontrar
e ainda assim, com medo, prossegui.

Encontrei vasto universo de cores
de letras, de versos e de amores,
de sonhos reais - pois que verdade
não são, quando muito mera vontade;

Com tantas surpresas me deparei
e com tanta vontade ali mergulhei
que afoguei-me no êxtase sem fim ...

Mas, assim como súbito me viciei
o amor pela vida que então abracei
trouxe-me, afinal, de volta pra mim.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Diagnóstico

- um pé doído.
- uma coxa meia boca.
- um pescoço empenado.
- um olhar meio caído.
- dedos sem palavras.

*

não vejo música
nem ouço poesia aqui
hoje está duro de roer
só tem espaço pra sonhos
em cinema mudo e p&b.

[Só Eric C. pra me salvar agora -
come get me now]

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tempo

De tarde, o céu cinza encimesmado chora sua mágoa
e ruge seu mau humor em faíscas cintilantes -
e à noite sela as pazes com um longo beijo de estrelas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Pois é

Pérola casual:
a gente não é -
a gente resolve ser.

'Não estou bem -
mas vou ficar.'

E ela ficou.
Longo suspiro depois:
'Pronto. Estou bem'.

Cabeça leve,
trabalho mais leve.
sorriso sincero.

'Nada como uma
resolução
bem resolvida!',
pensei.

...e mordi
o lábio de lado
pensando o
quanto falta pra
eu evoluir.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009




Esse blog está muito feliz, não só por ter recebido seu primeiro selo, mas porque parece que andam lendo esses poemas e gostando... Ainda que tudo tenha começado na base da tentativa e erro, por justamente saber pouco sobre coisa alguma, fico feliz com as trocas que venho fazendo nesse e em outros blogs. Também fui pega de surpresa quando vi a mensagem da Isabelle (http://chapeutorto.blogspot.com/) me avisando do selo que blog maneiro! (por sinal, o tal blog é danado de bom, eu recomendo...).

E, "para não fugir à regra", lá vão... as regras:

Já teve curiosidade de ver sua caricatura?
1- Exiba a imagem do selo “Olha Que Blog Maneiro” Que você acabou de ganhar!
2- Poste o link do blog que te indicou.
3- Indique 10 blogs de sua preferência.
4- Avise seus indicados.
5- Publique as regras.
6- Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.
7- Envie sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com os 10 links dos blogs indicados para verificação. Caso os blogs tenham repassado o selo e as regras corretamente, dentro de alguns dias você receberá 1 caricatura em P&B.

Minhas dez indicações vão para os blogs que mais gosto e visito:

- João Manoel Nonato -http://acenamuda.blogspot.com/
- Sr. Despedaça Corações - http://despedacandocoracoes.blogspot.com/

Recebi também um selo da Jessica Torres (do blog Oh La la) chamado 6 coisas e 6 links. São mais algumas regrinhas: lá vai!

1. Linkar a pessoa que te indicou.
2. Escrever as regras do meme em seu blog.
3. Contar 6 coisas aleatórias sobre você.
4. Indique mais 6 pessoas e coloque os links no final do post.
5. Deixe a pessoa saber que você a indicou, deixando um comentário para ela.
6. Deixe os indicados saberem quando você publicar seu post.
Seis coisas aleatórias sobre mim:
- Adoro sol e praia, não vivo sem fotossíntese regular (pelo menos longas caminhadas no calçadão)
- Adoro ler e agora resolvi mergulhar nos clássicos
- Sou médica e dou aula de inglês (por isso tantos posts em inglês...)
- Adoro cinema, menos filmes de terror
- Sou a melhor claque que existe: acho graça de tudo, e adoro ironia fina.
- Acredito na amizade verdadeira.

Meus seis indicados:


Bom, é isso aí. valeu e até o próximo post!!!!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Haikai de verão

A delícia de um pôr-do-sol vermelho
após dia inacreditavelmente azul
de um verão com lente de sonhos verdes...

A children's tale III

(This series of tales are children's stories adapted to modern times, yet keeping the same old style: rhyming words with a moral. The previous ones include "Alice through the Plastic Glass", about the consumer world, e "Alice in Wonderland", about fantasies).

Peter Zen

Once upon a time, and not long ago
there lived in a faraway land
a fantastic being made of dreams
known by others as Peter Zen.

Peter made friends with Time
so that age he wouldn't follow
and thus he lived forever young
but in a state of incredible sorrow;

'Cause his friends would all grow old
not him, though; he'd still be young
not only in looks, but also in soul
so that pain from fear had sprung.

He feared losing his dear friends
just as Time would not them spare
and also his life, by having no end
- such a boredom he couldn't bear!

But one day, he met Wendy the fairy
and she asked the reason for such:
-"Aren't you, my friend, Peter Zen,
the one that doesn't fret about much?"

He remembered, then such a grand
idea he'd learned a long time ago:
that in order to always stay zen
one must really learn to let go.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Admirável mundo novo

Decisões, quantas são estas
que eu tenho que tomar
e aparar tantas arestas,
e tanto novo descerrar -

Se ainda temo, pois que seja
dizem: 'normal é se agastar';
é a vontade que deseja
um mundo novo conquistar.

Permito-me: - Vinde então
o desafio que aprouver!
Meu futuro é meu presente
e será meu, se Deus quiser...

Just clichés

Don't fret
- Time will tell.

Don't worry
- You'll make it.

Don't think too much
- Just do it.

Don't hurry
- Take your time.

Don't worry
- Be happy!

[...just a few clichés to help us move on]

sábado, 24 de janeiro de 2009

Let Me Blues

let me blue you tonight
baby
with my song
and my groove
I'll rock you to heaven
I'll make you sigh
just give me a chance
baby
share your eyes with mine
come along
join the thrill
and swing, baby,
swing now
nothing to regret
just give me a chance
to sing you,
I know how
let me blue you tonight
'cause tomorrow is now.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tapete mágico

Hoje, lá na rua, volitando
seguia eu com meu sorriso
contraído; vinha andando,
de outro tanto me indagando
sobre meu pouco tempo vivido.

Tanto tempo que se perde...
Pois vejo a mente divagando
no passado, presa; ora inerte,
ora só de tudo lamentando,
como se nada mudar pudesse.

Quisera todo mundo soubesse
que passado é de outro tempo,
não é mais; e, assim, fizesse
do presente bendito momento,
o viver agora, o que houvesse.

'Por que não?' - então, eu me diria -
'Poderia aqui apenas viver?'
Pois com laços do passado faria
uma linda rede pra tecer
a incrível, mágica tapeçaria:

que apagasse as mágoas e dores
apertos, solidão, menos-valia,
dúvida, saudade, ou agonia,
tristeza, ansiedade e pudores...
toda a caixa de apegos que se cria.

Vôo alçando, em cor e fantasia
de um presente colorido e sutil
sem espera, fôrma ou garantia -
apenas de que a alma é mais gentil
quando, destemida, se irradia.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Canção de um amor

Que de letras eu soubesse
onde minha alma anda
eu faria que houvesse
mais papel e tela branca

e pintaria, a meu gosto
teu rosto, e meu azul
te olhando, sem o fosco
sorriso que me fugiu.

Ainda ando, bem pintando
bem sorrindo, outro tanto...
não te esqueço, no entanto,
nem um dia, nem tentando.

Esse quadro, nessa tela
branca, com cor farta,
pinto eu a mui singela
cena que não disfarça:

- eu sou tua, e tu és meu,
teu beijo que não se vai,
o amor que mais cresceu;
esse amor que não me sai...

Letrinhas virtuais

Tim tim
por
tim tim
...
- sou eu
devorando
letrinhas
aqui
verminho
alimentando
o cérebro
minúsculo
...
crescendo
em imagem,
indigestão
de sentidos

espalhando
folhas
da planta
na varanda
juntando
frutos
pra próxima
estação.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pés no chão

Um meio olhar
agora
meio triste,
meio sem jeito -
nada a fazer.

os débitos
do passado são
apenas
materiais.

e sei que
o controle não
se perde assim
tão fácil;

pois sou o riso
e a festa,
estão em mim;
ainda que um ou
outro dia seja
cinza.

Há portas entreabertas
para as deliciosas
loucuras que
hão de vir,

mesmo que os
pés estejam descalços -
bem apoiados
no chão.

Sonhos de um Dia de Verão

Mais um dia
de sol e sal
de lembrança
e som
de notícia
e de rostos.

Talvez filme
também
e linhas,
livros
e viagens.

Mais uma tarde
de amigos
e sorrisos,
encontros
e belisquetes.

E mais uma noite
de luzes indiretas
aconchego
e sono tranqüilo com
ventinho siberiano.

Simplesmente
adoro o
verão; tenho
tudo isso com
um céu azul de
bônus.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Alguém que me ame de verdade

(Lindo filme. Em linhas bem gerais, sobre duas amigas, uma judia e a outra muçulmana, às voltas com seus casamentos pré-arranjados. Quem não viu, veja.)

"Senhor,
mande-me alguém tão bonito
como a bela Rochel dos olhos azuis,
tão gente boa como a Nasira
do véu-sorriso amigo,
tão inteligente quanto o
ortodoxo candidato,
(de preferência em
uma biblioteca ou livraria de NY),
e tão compreensivo quanto
o pai muçulmano,
e que me ame o suficiente
que eu desejo;
e por favor, na hora
de escolher os candidatos
no 'shadchan' celestial,
por favor,
não leia o
meu currículo
em voz alta.

Amém."

O caso Crest

Quando hoje você não quis que eu carregasse a pasta de dente de dez milhões de dólares que eu comprei com todo carinho e meu último vintém, os sapos mafiosos da garganta ressurgiram do hades e voltaram com toda força: como pode???? nova vítima potencial! e dispararam coaxares malucos e despropositais, molhados com soro fisiológico embebido em raiva lamacenta do pântano. Cale-se e respire fundo, pois são apenas sapos bem velhinhos - não fazem mal a ninguém. Só dão as caras de vez em quando; afinal, pântano que se preze tem que ter sapo.

Trem bão

A porta entreaberta
tarde quente de verão
vento uiva na janela
quem bate? quem entra?

- sei não, sei não...

Os amigos, hora esperta
se aconchegam no beirão
foge o vento, vem a trégua
do sorriso meu de então;
quem foi? quem viu?

- eu não! eu não!

Tarde finda, noite aberta
estrelas contamos juntos
vinho dentro, riso fora
brincamos mais uns segundos
quem sorriu? quem corou?

- foi bom, foi não?

sábado, 17 de janeiro de 2009

De mudança

Novidade das mais antigas:

vou mudar.

vou mudar de mim mesma,

já, já,

mais uma vez,

pra lugar desconhecido -

te encontro por lá.

Eros

O embate dos desejos -
amaria mais e mais
sem luta
pudesse eu saber
que tudo não passa
de uma série de katas.

Não seria luta, mas dança.
que o outro simplesmente
me tirasse pra dançar
e a luta
fosse apenas entre pernas
e pés destreinados.

E os desejos,
que nos observam
flexíveis, dançando
conforme a música,
amaciando a pele;
mas ah,
se nos entregássemos
aos desejos -
e se os desejos não fossem
apenas desejos...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona #2

[Num segundo momento,
uma segunda visão:]

Não há, de fato, culpa
nos desígnios do coração;
navegam sobre águas
assaz tempestuosas.

Uma responsabilidade, porém:
escolhe não ficar no meio do caminho -
corres o risco de te afogares
no meio do Atlântico.

Poseidon não tolera indecisões
nem falta de amor-próprio.

Notícia de jornal

Tolo,
acreditas que farás a diferença?

Nada,
nada muda o destino das sentenças.

Segues,
qual bezerro sem rumo, em tudo crês;

Pobre,
serás sempre um seguidor do que não vês.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Epifania

(Há alguns meses atrás, olhando pro mar, de repente as ondas assumiram formas, como nas brincadeiras de nuvem: ora um tutu de bailarina que ondulava, ora um buquê de flores que se abria. Durou pouco tempo, mas foi uma linda imagem. Tive uma sensação gostosa de que a vida realmente é fluida como o que vi ali).

Do alto da pedra, o mar
parece saia de bailarina;
as ondas, qual serpentina
enroscam-se em ramalhete,
um buquê de copa branca
com hastes de prata verde.

E se envolvem, e revolvem
em dança na ponta do pé,
o sol bate, e nele volvem
a pétala que lhes convier;
oferecem-na ao céu que acima
observa o contínuo balé.

Bem cedinho, lá da pedra,
refulgindo de prateado
as bailarinas me sorriem
cada uma com seu legado.
Iluminam-me mais um dia,
...e agradeço, em sossegado.

[Num mundo em que tudo gira,
uma dança que nunca passa...]

Corpo-brinquedo

O que são meus dedos
senão extensões do meu pensamento?
e os meus olhos,
filtros verdes
de uma vida nem sempre rosa;
os meus lábios,
almofadas vermelhas
que acolchoam palavras
suspiradas.

Meu cérebro não necessariamente
é diretor;
a rede de lembranças
(e filtros de esperanças
e sentenças, temperanças)
é imensa - tudo se conecta
por minúsculos extensos
raios de sentimento.

Se, de fato, tudo em meu corpo
se conecta,
então, sou uma marionete
auto-manipulada.

Que seja, pois:
cordas para um violão que ri
e faces para a história
de um contador!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Às cinco

Café quentinho com pão de semolina
essa delícia de memória de menina
que acompanha, ainda hoje, o meu estar...
pena não possa, no tempo, atrás voltar.

Minha vó, da cozinha, me dizia:
- 'Menina, vai de pulo, à padaria!
traz bisnagas e volta num pé só,
que teu vô gosta quente que ele só.'

Vó e vô, sábios, sentados na varanda
saboreando a frescura da tardinha
e eu, pequena, adorando aquela hora...

Hoje, penso, continuam na lembrança;
- ou será, que do alto, minha vózinha
'inda me grita: 'Busca o pão! E não demora!'

Do que se é

de ser e estar
de pensar e não ser
de querer e não ter
basta ver
basta olhar.

de sentir e viver
de ouvir e calar
de dormir e sonhar
basta abrir
basta amar.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cantiga de saudade

Envio-te este vicejo
em suaves palavras de amor
quisera ter o ensejo
de te ouvir e ver em cor;
pois que aqui não me desejo
causar-te ainda mais dor,
então que seja, fiques bem,
onde estejas, onde for.

Dia azul

Esse azul hoje é tão azul
que a minha percepção do azul
mudou;
como pode o azul ser
simplesmente
'azul'
se existe esse outro azul?

E, por ser tão incrivelmente
azul,
luminoso e envolvente,
mergulho nesse céu de cor
como se fosse meu mar,

nado em ondas de algodão
com correntes de brisa,
deleito-me em veús de vento.
Meu azul hoje é tão azul
que até o sol brilha pra ele.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Delírios de rumo à meia-noite

tempo tempo tempo tempo tempo (...)
cada vez que penso
ele passa;
um contratempo,
e,
oops!
já passou;
um passatempo,
de mim, parece,
zoou - tão ligeiro.
Mas, muito esperto,
enquanto aguardo,
é inclementemente
lento;
tempo sonolento
na hora do olho aberto -
não mais pretendo:
sigo teu fardo.

Às avessas

Ironicamente,
hoje não te dou bom dia.
nem um sorriso gentil.
não te passo um café,
não penso no livro que comprei
pra te dar,
e que acho mesmo que não vou.
(sei lá: amanhã é sempre
amanhã).
Nem uma poesia bonita.
Nada.
hoje te dou um sarcasmo de
presente;
só pra ser diferente
de todos os outros.

Engraçado se apenas hoje
você me sorrir de volta.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Colorido

Veja bem, não sei bem do que falo
hoje tenho bem menos certezas do
que jamais tive.
Se não sei, pelo menos me abro
a procurar respostas.
Pois quem sou,
- essa sou eu!
tem lá suas intuições,
mas não é assim tão fácil.
O processo de criação
geralmente é doloroso.
É que nem figurinha de álbum,
vai colocando uma aqui e
outra ali,
aquela figurinha rara que
nunca vem (e você
cheio de duplicatas...)
- com a diferença que
esse álbum nunca termina.
É a história da minha vida.
Venho colando figurinhas
ao longo dos anos.
Apesar da aparente falta
de rumo e da
multiplicidade de caminhos,
e da sensação incômoda
de um daltonismo indesejado,
percebo um exercício constante:
a busca da cor.
Cor em ser, em conhecer,
em descobrir, ao cozinhar,
em caminhar, em me vestir,
em escolher pessoas e
amigos;
em ser uma pincelada
de tinta numa tela
em branco.
(Felizmente:
as pessoas monocrômicas
são incrivelmente monótonas.)
E assim, lentamente,
em meu álbum se formam
cores, sons, imagens,
cenas, músicas, gargalhadas,
choros, pinturas,
danças, abraços,
beijos, mares, céus azuis,
colas, aulas na praça,
mingau de maizena,
neve, sol de rachar,
giros, tango,
desejos, bombons suíços,
cartas - quantas,
e quantos livros
e rostos queridos,
e quantas cores
e quantos sons!
interessantes matizes,
a assinatura do artista,
a figurinha rara,
o sorriso da Monalisa.
Sorrio colorido
para a obra em composição.

Words of wisdom

hearing a few words
is great
not saying a few others
is even better
knowing when to say something
or keeping silent
is state-of-the-art
(though I know little of either one).

sábado, 10 de janeiro de 2009

Sorriso & Olhar

Momento inspirado, instante de apreço
gentil cumprimento me deste, bissexto,
único; e mesmo sem haver desfecho,
fizeste-me bem, e assim te agradeço.

Sorriso gigante, no dia, quiseste
me dar, em um mundo sem cor e irreal;
Sorriste e olhaste, quebraste afinal
o sério pensar, e humor me trouxeste.

Nunca mais te verei, porém, face-a-face
queria um momento a mais, de te ver
como és, o que fazes, e a cor do teu ser -

Agora, de longe, entretanto, escrever
te imagino e a ti falo - quisera fazer
que meu sorriso, de novo, a ti chegasse.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Fragmento

Pudera a poesia de ser
escolhesse as vias mais belas
ao longo do mar, ou estrada florida.
Se aqui seguiu pelo asfalto
árido, não foi porque se deu
conta; mas era um caminho,
também.
É fácil olhar de esguelha
e sorrir amarelo
quando se olha para trás.

O prosseguir, com ou sem flores
pela janela, é menos óbvio -
o filtro é escolha própria,
mas não o fato.
A inteireza do sentimento
é fragmento de olhar
fragmento de momento
e tempo;
enquanto a estrada,
essa passa,
com as lindas vistas
e o vento, e o mar, e as flores
pela janela.
Basta olhar e ver.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Light and shadow

Just as now I here stand
knowing not what to say
many a-kind will just pretend
they've never been dismayed
[oh- so fake!]

Words have never missed them
woes have never hurt
wonders never impressed
such balance - the topmost
[no- so terribly perfect!]

Perfect people - where are thee?
not here, where I'm done!
Here it gathers dust, in you and me
in this planet near the sun
[nought - so over!]

Tell me: just as there´s light
can there be no shadow?
So untrue, as if no trees
could ever grow in a meadow -
[- so unreal...]

Some truths don't change
some dust will always gather
some faults might derange
but essence will be
essence
- forever.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Festa

O dia nasceu
o sorriso brotou
a ruga saiu
a passista ensaiou
o morro tremeu
e ela sambou, sambou, sambou...

O elo quebrou
a nuvem choveu
o sol retornou
e ela viveu
o CD tocou
e ela dançou, dançou, dançou...

E o céu explodiu
a avenida se encheu
o fogo zuniu
no azul espocou
'o samba não morreu'
- e o dia ainda não terminou.

In a view

"To him who, in the love of Nature, holds
communion with her visible forms, she speaks
a various language (...)
She has a voice of gladness, and a smile
And eloquence of beauty; and she glides,
Into his darker musings, with a mild
And healing sympathy..."
(William Cullen Bryant - Thanatopsis)

A familiar scene
sitting on the rock over the ocean
under the warm sun
I sway with the waves
no binds here

Then the wind gently flies
over my untied hair
the warm sun subtly
glides over my skin
and the waves whisper quietly
to fill the sounds of silence
with grace

it doesn't matter if it makes
no sense at all
just look up at the sky
and admire the greens of the ocean.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Na verdade

Na verdade, ainda estou daltônica
ainda tenho dificuldade de
enxergar além do óbvio
ando um pouco surda, também
de me imergir em silêncios
- mas ainda sei dançar.

Ainda sinto o calor da dança
ainda intuo o chegar-se dos corpos
e a atração irresistível dos olhares;
essa faz parte de mim
é meu repertório

Da mesma forma, sou afeita às
as línguas, melodias perfeitas
pra cantar sentimentos que me
são tão comuns
- tudo começou assim
afinal

quantas línguas ainda vou precisar
aprender um dia,
quantas danças e quantos salões
quantos pares de óculos para enxergar,
quantas tentativas e erros,
quantos poemas tortos,
quantos mis-feitos, desfeitos
e refeitos,
pra dizer um 'na verdade' -
que não chega nem a
ser 'no fundo',
de tão evidente;

como as vagas e as brumas,
que oscilam com as marés,
porém mais certas e firmes,
pois estão sempre lá,
enquanto eu apenas insinuo;

apenas uma simples verdade,
de tão eu que sou,
de tão você que é.

De noite, no Oráculo de Delfos

nada, mas absolutamente nada
supera a alma humana

sempre tentam se entender
nem sempre conseguem

se amam e se odeiam
mas se toleram

se procuram e se perdem
mas por fim se acham

gritam e esperneiam
e depois sussurram

se somam e se dividem
e então se deduzem

- que os deuses tenham paciência!

- e que os deuses participem da festa!

Caminhos

como prosseguir
se meu caminho se mescla ao seu
e o meu seguir
esbarra no seu estar?
como parar
se não quero me perder?
como perder
se não quero mais parar?
sigo em silêncio
pra você se percorrer -
sigo cantando
até me encontrar.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Adios Nonino - cenas de um tango portenho

cena 1

chegas, hermosa, no salão;
em desafio, carmim, pérola
e aroma francês;
olhar alto e altivo,
braços que querem,
pernas que sabem
e te insinuas

cena 2

derretes em teu sorriso
e o seduz
então, tomando-te em seus braços,
deslizam pelo salão
os círculos gentis das tuas pernas
nas dele
já o tens

cena 3

ele te segura, firme em toque
viril e te rodopias,
incessante, célere,
e a ti se impõe;
corpos leves e arfantes
ele a queda
e páram
e se olham
um instante de eternidade

cena 4

terno, quieto e suave
segue a dança, o movimento,
cada vez mais intenso,
te entregas uma última vez,
como se fosse de fato a última
mais um instante de insana
vertigem

cena 5

e páras, então -
sorrindo,
vibrando,
amando,
sozinha,
no meio do salão.

Então

não me culpe
o meu vazio não é o seu

não te culpo
se você nem vazio tem

só não desculpo
se você me culpar

o esforço é meu
e o vazio também.

What I really wanted to do now

my eyes are still open
I'm tired of the long night of dance and drinks
and cheer
I have this silly nature of trying
to make everything right and life so
pink
when what I really wanted to do now
was to kick your ass

but I can't

I won't write now another piece of pinkish
rhyming poetry
and pretend I'm incredibly superior
'cause what I really wanted to do now
was to ignore you forever

but I won't.

So here goes my nothing onto you
like the unswollen alcohol of my drink
and the redness of my unslept eyes
and the pain of my hurting feet

I've done it
but who cares

I don't.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Pausa

Esse post faz parte de um balanço. Senti a necessidade de dar essa pausa quando vi o número de posts nesses dois meses de blog - mais de 80! - quase uma compulsão; por isso, resolvi rever com calma o que esse blog tem sido e no que se tornou.

Vejo que 'explodi' - e felizmente, os fragmentos se encontram todos aqui. Desde o início, quando me questionava se havia poesia em mim, era eu lá também. Fui reapresentada à poesia pelo João (o medeiros) depois de anos presa em projetos que me afastaram bastante de mim mesma. No início, escrevia muito por 'inspiração' e 'reação', mais do que por 'transpiração', pois pouco tinha lido que me orientasse quanto à forma, métrica, estilo ou qualquer coisa que pudesse ter alguma utilidade - nem isso eu sabia. Daí nasceu o nome do blog: eu não sei de nada. Estava totalmente aberta a me expressar, do jeito que fosse.

Desde então, experimentei com tudo o que me veio à cabeça: forma, os sentidos (imagens, cores, sons, movimento), ciências, a língua, histórias infantis; até que me dei total liberdade de escrever como quisesse, sem obedecer à nenhuma convenção, contanto que fosse essa expressão real do que penso. Uma forma de ser fiel a mim mesma - afinal, eu não sei é de nada mesmo... (e não tou nem aí hehehe). Atualmente ainda tenho muitas idéias tomando banho (isso mesmo - preciso fazer minha parte na economia de água do planeta, isso vai ter que mudar) - mas estas são mais triadas e bem mais trabalhadas do que antes. Reconheço no blog algumas coisas boas, muito boas até; e as demais, essas são importantes do ponto de vista pessoal: são parte da minha história agora.
Aproveito essa pausa e me dou um rosto: essa sou eu, em Washington, onde passei o fim de ano. Foram ótimos dias e muita inspiração no 'plastic world' - deixo essa foto como lembrança desses dias especiais.
Até o próximo post.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Círculo

Ignóbil destroço, vagas sem som
ou luz; qual mero espectro de outrora
tendes em mão, porém, a vil remora
das almas sentidas, sem fim ou dom.

Procuras, em vão, espaço e calor
equilíbrio sutil de amar e ser;
liberta a ti, e ao outro, sem dor
vagar mais sereno a se conhecer,

então - Mas o que fazer, se persistes
na lembrança do carinho, senão
suspiros vazios que não te sustêm?

Anima-te e segues, pois 'inda existe
outro som, outra cor, e outra mão
a te consolarem a falta de alguém.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Gone

here no crime
an easy rhyme
just in time;
let the mind
rewind.
so find prime
no more cry
just to find
my mind
gone wild.

[Let's spend the night dancing until the sun goes up.]

Strand - Lost in Miles

Paradise found of words and woes
displayed in rows and miles to run
by chance walk into cherished books
by fate just find such ones for fun

no other word could here describe
the delight of gathering in one place
the loves and lives, one of a kind
such treasure of the Human Race;

so I, gladly, myself dispose
there to return, wonders to find
hours on end just savouring those
that I, with sorrow, have left behind.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Com

esse reveillón foi diferente:
não teve festa nem champagne
foi no escuro
e com estranhos;
mas um abraço espontâneo
- generoso desconhecido -
me fez

"There was a lotta love
going on down there"
ouvi depois

e sorri

essas palavras começaram
muito bem esse ano novo.

Noite Estrelada II

Esse poema não foi inspirado no quadro de Van Gogh, de quem empresta o título por semelhança de tema e imagem e, talvez, um certo tom de época; e não é sobre mim, mas de mim, seguindo as leis físicas referidas em poema anterior.

Num céu escuro cheio de estrelas
preto e branco se contrastam e completam
enquanto as miríades de luz segredam
em suaves sutilezas cintilantes
aos seus dois mais jovens amantes.

Eis que ecoa, então em uníssono,
do Alto, Silêncio Absoluto do Uno
de todas, a mais bela melodia:
"- Tendes a benção das estrelas!
- E que a lua vos seja por guia!"